terça-feira, 10 de junho de 2008

Obsessividades

Mãezinha, há um desafio besta que me faz desejar continuar vivendo, descendo, pulsando. É a vontade de saber onde vai dar. Eu tentei me perder, rasgar meu peito e destroçar tudinho, mas não pude. Não tive coragem de me gastar antes de ter tempo de desvendar o mistério. Eu não sou anjo, o caso é que meu silêncio engana. É gostoso, misterioso, pleno. Rasgar é coisa pra gente jovem, mamãe, e eu nasci idosa. Nasci pensando. Nasci refletindo sobre o porquê das cores e sobre as lindezas do sexo. Mãe, eu sou um gênio. Genialmente estupenda. Ilimitadamente sábia. Mas antes do tempo. Antes de sentir. Antes de gozar. Funciona assim: enquanto o mundo inteiro se põe a falhar pra depois descobrir o arrependimento, eu já me arrependi antes de errar e cá estou cumprindo penitência: "Papai do Céu me perdoe pelo que ainda nem sei se sou capaz de fazer...".

Todas as vezes em que você me viu ajoelhada no milho no canto da sala, esteja certa de que antes eu já havia pecado em pensamento de forma tão insuportável que meu vil prazer já se fazia em carne viva. Na minha carne. Eu nasci de carne já batida, de pecado adiantado, nasci de fogo já aceso quiçá em outras vidas. E agora me vem a vontade de saber onde vai dar. Tudo isso. Onde dá essa minha vida humana que eu já manchei de tanto pensar. E que é infinita como minha sabedoria louca. Eu vivo, mamãe... Eu vivo porque espero... Porque não se gasta a vida. Porque eu não gasto. Porque piso na linha da margem entre lá e cá. E não decido. Meu tempo é infinito.

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